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Grilos por todos os cantos
Após terça-feira abafada, quente e com chuva, inseto tomou conta de diversos pontos de Pelotas; no entanto, o animal não deve ser temido
Centro, Porto, pontos da Zona Norte, Oeste e Zona Leste. Se você mora em alguma dessas regiões, pode ter percebido. Foi só anoitecer que eles surgiram, aos montes. A crença popular refere-se a eles como sinônimo de sorte ou dinheiro. São os grilos, insetos que chamaram a atenção dos moradores de Pelotas na terça-feira (20). Nas redes sociais a repercussão foi grande. Usuários queriam saber: de onde surgiram e porquê tantos?
Uma publicação sobre o acontecimento no grupo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em uma rede social gerou mais de duas mil curtidas. Um estudante questionou "Alguém mais tá vivendo essa infestação de grilos???? Socorro". Milhares de comentários confirmavam a quantidade de grilos e outros pequenos insetos em vários pontos da cidade. "Surgiram na minha casa lá pelas 20hrs. Não sei de onde saíram", diz a moradora da Cohab Fragata, Paloma Rocha, 25. "Minha sogra não percebeu e ela é do fragata também, mas foi em vários pontos", completa.
Surtos de insetos são especialmente comuns durante o verão, explicam os especialistas. O motivo mais provável para a infestação dos grilos está relacionado às condições climáticas dos últimos dias em Pelotas, com chuva, calor e abafamento. "Três fatores podem ter feito esse aparecimento favorável: a alta temperatura, a umidade elevada e folhas de vegetais em abundância para alimentação dos grilos", pontua Dori Edson Nava, entomologista (especialista da biologia que estuda os insetos) da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas.
No entanto, Dori não descarta possibilidade de um desequilíbrio biológico. "Os predadores naturais do grilo são as lagartixas, rãs e outros répteis e anfíbios, além dos pássaros. Pode ser que alguma atividade humana tenha interferido na quantidade desses predadores, como o aumento de poluentes na natureza e a contaminação de rios", aponta o entomologista. Com a mudança de temperatura, os pequenos animais devem desaparecer e se abrigar em vegetações.
O professor de biologia da UFPel Edson Zefa diz que os grilos vistos na terça-feira já são adultos e estão na fase reprodutiva. "Machos e fêmeas apresentam asas bem desenvolvidas, e em períodos mais quentes e úmidos do ano se juntam em revoadas. Considerando que durante o voo se orientam pela luz da lua ou de estrelas, acabam sendo atraídos pela luminosidade mais forte da cidade, por isso se juntam em grande quantidade nos locais mais iluminados", acrescenta.
É praga?
O caso fez lembrar a passagem bíblica sobre as dez pragas do Egito, calamidades escolhidas pelo Deus de Israel para conduzir o Faraó a libertar os escravos hebreus. A oitava praga trata justamente de uma nuvem de gafanhotos (grilos são da ordem dos gafanhotos) que ataca as plantações do Faraó. Na história, o Senhor enviou os insetos para devorar muitas das plantações do Faraó, acabando com suas propriedades, com finalidade de libertar o povo hebreu. O Faraó obedeceu a pena divina, mas somente até a praga cessar. Ele só desistira de escravizar o povo hebreu após a décima e última praga.
Porém, diferente dos gafanhotos, os grilos são mais amigáveis. "Em geral, não causam danos para seres humanos e nem para plantações. Poucas espécies de grilos são pragas agrícolas", esclarece Dori. Fato é que esses animais deveriam conviver com a população todos os dias, não só eventualmente. "Cada vez menos os grilos têm ambientes favoráveis para se desenvolverem. Na cidade a urbanização é ampla, no campo há lavouras industriais e uso de pesticidas. Grilos cantando à noite, pirilampos, borboletas... são animais difíceis de serem visualizados diariamente hoje em dia", comenta o especialista.
Portanto, os grilos não devem ser exterminados - nem seus predadores. São rãs, lagartixas e outros animais que controlam a população de grilos e outros insetos. "Essa é uma espécie endêmica da região. Eles convivem conosco há muito tempo, mas isolados nas áreas verdes. A maioria é benéfica para os seres humanas, não peçonhenta. A lição é que temos que aprender a conviver com os animais. Eles não vão atacar as pessoas nem transmitir bactérias, já que não são atraídos pela comida dos humanos", completa Dori.
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